A síndrome de hiperventilação (SHV) é uma das causas mais comuns de falta de ar; muitos pacientes procuram a emergência por SHV, que resulta em ataques de falta de ar.
Hiperventilação é o aumento da quantidade de ar que ventila os pulmões, seja pelo aumento da freqüência ou da intensidade da respiração. A causa mais comum da hiperventilação é a ansiedade, mas exercícios físicos, febres e doenças respiratórias também costumam levar a esse estado. A hiperventilação pode estar associada a ataque de pânico, histeria e outros transtornos de ansiedade.
Uma pessoa normal respira de 6 a10 litros de ar por minuto, o que se chama ventilação. A ventilação é rigorosamente controlada pelo comando respiratório, um marca-passo que fica localizado no tronco cerebral. O objetivo da ventilação é regular o gás carbônico no sangue em níveis estreitos. A SHV, como classicamente definida, implica uma ventilação excessiva com queda do gás carbônico no sangue (CO2), resultando em diversas alterações no organismo, que podem ser reproduzidas pedindo-se ao paciente que respire profunda e rapidamente por 3 a 4 minutos.
Nos últimos anos, por medida instantânea do gás carbônico através de sensores colocados na pele, demonstrou-se que, em muitos pacientes, o gás carbônico não cai durante os ataques de falta de ar, ou a queda acontece depois de iniciada a crise. Uma melhor designação para a síndrome seria de dispnéia (falta de ar) psicogênica ou comportamental. O comando da respiração sofre influêcias de diversas regiões superiores do cérebro e certas emoções como ansiedade pode desencadear os sintomas. Por sua vez, o comando respiratório tem sensibilidade variável em diferentes pessoas, o que facilita o desenvolvimento desta condição em pessoas com comando respiratório mais sensível.
A consequência metabólica da hiperventilação é a hipocapnia, isto é: a diminuição do teor de dióxido de carbono dissolvido no sangue. Como o dióxido de carbono é transportado no sangue como acido carbonico, a hiperventilação eleva o pH sanguíneo, fenômeno conhecido como alcalose respiratória.
O que causa SHV?
A causa é desconhecida, mas as pessoas afetadas parecem ter uma resposta anormal ao stress e outros fatores desencadeantes. Sob stress, os pacientes com SHV passam a respirar muito mais com o tórax do que com o diafragma, resultando numa distensão exagerada da caixa torácica superior. Este padrão de respiração leva à falta de ar porque respirar distendendo a parte superior do tórax é muito mais difícil. Receptores situados nos pulmões e na caixa torácica disparam mensagens de “alarme de sufocação” para o cérebro. Diversos transmissores são liberados pelo organismo levando a palpitação, tremor, ansiedade e suor excessivo.
Sintomas da SHV
Os sintomas da SHV e doença do pânico se sobrepõem consideravelmente, embora as duas condições sejam distintas. Aproximadamente 50% dos pacientes com distúrbio do pânico e 60% dos pacientes com agorafobia (comportamento de evitar lugares ou situações onde o escape seria difícil caso se tenha uma crise de pânico ou algum mal estar ou embaraço), manifestam hiperventilação como parte de seus sintomas, enquanto que apenas 25% dos pacientes com SHV manifestam doença do pânico.
Os sintomas mais comuns da hiperventilação são: sensação de estar flutuando, tontura, vertigem, dores no peito, parestesias (formigamento ou adormecimento) em vários locais do corpo, como a ponta dos dedos em volta da boca, taquicardia, palpitações, visão borrada, sensação de falta de ar, disfagia, náuseas, dor abdominal, distensão abdominal, dores musculares, tremores, tetania, ansiedade, medo, fadiga, exaustão, sonolência, fraqueza.
Pacientes com SHV crônica freqüentemente são submetidos a inúmeros exames na tentativa de esclarecimento da causa da falta de ar. Como a dor torácica pode ocorrer, exames para doença coronariana, como teste ergométrico e até angiografia são freqüentes. Pacientes com SHV aguda, que procuram um pronto-socorro, recebem o rótulo de neuróticos e são dispensados com o alerta de que “nada há de errado com seu organismo”, isto é, uma causa orgânica não foi encontrada e, portanto o quadro seria irrelevante do ponto de vista médico.
A doença é mais freqüente em mulheres, numa proporção de 7:1 e ocorre mais freqüentemente entre 15 a 55 anos de idade.
Os sintomas são:
- Pacientes com SHV aguda podem apresentar agitação e ansiedade intensas.
- Mais frequentemente, a história é de início súbito de dor torácica, falta de ar, ou sintomas neurológicos - tonturas, fraqueza, formigamentos, ou ameaça de desmaio - após um evento estressante.
- Pacientes com SHV crônica se apresentam com sintomas semelhantes de dor torácica, falta de ar ou distúrbios neurológicos recorrentes, que se repetem ao longo do tempo.
- Hiperventilação aguda
- Os pacientes frequentemente têm sintomas dramáticos, com agitação, hiperventilação, incapacidade de encher os pulmões, respiração rápida, dor torácica, chiado, vertigem, palpitações, câimbras com contratura dos dedos, formigamento em torno da boca e de extremidades, fraqueza generalizada, e desmaio. O quadro às vezes é confundido com crise de asma. A queda do gás carbônico pode resultar em broncoespasmo. A asma, por sua vez, pode se acompanhar de sintomas da SHV.
- O paciente freqüentemente se queixa de sufocação. Um evento precipitante emocional freqüentemente pode ser identificado.
- Sintomas cardíacos
- A dor torácica associada com a SHV usualmente é incaracterística, mas às vezes pode imitar uma angina típica. Ela tende a durar horas ao invés de minutos. É frequentemente aliviada mais do que provocada por exercício. Normalmente não melhora com medicamentos para angina.
- O diagnóstico de SHV de ser considerado em pacientes jovens sem fatores de risco para doença coronariana, especialmente na presença de outros sintomas da SHV.
- A SHV pode resultar em alterações no eletrocardiograma que confundem o médico. A SHV é mais freqüente em portadores de prolapso da válvula mitral, e a dor torácica nesta situação pode se dever a hiperventilação.
- Uma condição séria que pode resultar em falta de ar súbita e alguns sintomas de SHV é a embolia pulmonar, que deve ser afastada na presença de fatores de risco (ver embolia pulmonar).
- Sistema nervoso central
- A redução do gás carbônico no sangue causa redução do fluxo sanguíneo para o cérebro. Vertigem, fraqueza, confusão e agitação são comuns.
- Os pacientes podem relatar sensação de despersonalização (fuga de si mesmo) e podem experimentar alucinações visuais.
- Raramente, desmaio ou convulsão podem ser provocadas por hiperventilação.
- Ideações catastróficas (idéias de que coisas muito ruins irão acontecer com o próprio indivíduo) são comuns.
- Parestesias (formigamentos) ocorrem mais frequentemente nas extremidades superiores e são geralmente bilaterais. Quando unilaterais ocorrem em geral à esquerda.
- Formigamento em torno da boca é muito comum.
- Sintomas gastrintestinais
- Eructações, distensão abdominal e flatos podem resultar da deglutição exagerada de ar
- Boca seca pode ocorrer com respiração bucal e ansiedade
- Outras alterações como fasciculações musculares, fraqueza generalizada ocorrem por efeito de distúrbios metabólicos.
- Hiperventilação crônica
- O diagnóstico é mais difícil. Os pacientes se queixam de:
- Falta de ar
- Bocejos freqüentes
- Dor torácica
- Suspiros freqüentes, com sensação de respiração insatisfatória
- Muitos pacientes sofrem de distúrbio obsessivo-compulsivo, dificuldades sexuais e conjugais, e pobre adaptação ao stress
Como é feito o tratamento?
Uma explicação a respeito dos sintomas deve ser feita para o paciente.
A provocação dos sintomas por hiperventilação voluntária por 3-4 minutos frequentemente convence o paciente do diagnóstico, mas o teste pode ser negativo.
O paciente deve ser instruído para praticar respiração abdominal, usando o diafragma mais do que a parede torácica, o que melhora a falta de ar e os sintomas associados. A respiração diafragmática reduz a freqüência respiratória (figura), distrai o paciente durante as crises, e dá ao paciente uma sensação de autocontrole durante os episódios. Esta técnica é eficaz em muitos pacientes. O paciente deve procurar um profissional de saúde, que reforce a respiração diafragmática ou praticar Yoga que reforça o relaxamento e a respiração diafragmática.
Terapia para redução do stress, beta-bloqueadores, antidepressivos (quando há síndrome do pânico associada são essenciais) e retreinamento respiratório pode reduzir os sintomas e a freqüência das crises. Consulta com psicólogo ou psiquiatra é recomendada.